Olho a folha em branco e nela me
foco procurando as palavras, fieis amigas de tantas horas, que há muito
abandonei. Fazem-me falta agora. Talvez nem voltem, talvez não as mereça… Mas
elas mordem-me os sentidos gritando-se vivas mas teimosamente ausentes. Aos
poucos, letra a letra, o branco vai-se pintando de pequenas migalhas de um todo
grande demais para ser dito. Já não sei se perdi a coragem, se sou eu que não
as quero ou elas que não me querem a mim. Talvez já não me reconheçam. Os dedos
são os mesmos mas talvez eu já não seja. Vivo sempre 7 vidas numa vida… elas
perderam-me o Norte, deixaram de saber de mim. Não as posso censurar. Fiz com
elas o que fiz com quase tudo: Fugi, escondi-me, ausentei-me. Ceguei e emudeci.
Quase Morri. Não sei se foi uma escolha. Talvez uma imposição. As folhas
brancas pintadas de mim sempre falaram demais, nunca soube travar os verbos.
Cortei o mal pela raiz, provavelmente fundo demais. E talvez o branco tenha
permanecido alvo tanto tempo que se esqueceu da vida e do sangue, do amor e da
dor… permitindo-nos que a cada dia ficássemos mais sós. Ele e eu. O branco e o preto.
Numa paz podre, fingida, sofrida. Engolida.
Revejo a folha, pintada de nada.
Ainda estou só.
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