(Tenho que te dizer)





O que tenho para te dizer é quase tanto quanto o medo de o fazer, mas hoje é essencial que o faça para tentar encontrar um pouco de Paz…preciso dizer-te dos meus bocados, contar-te os meus amargos, fazer-te saber das noites mal dormidas, dos sonhos que se transformam em pesadelos de mãos que me puxam e arrastam por lama negra e fria, do medo, do escuro, do desespero, do pânico de não me libertar e da angustia se é mesmo isso que eu quero… Não sei se sei dizer-te a diferença que fez desta vez, uma simples gota de água… perdi-me num mar tão grande que não me encontro. Os dias passam e a sensação de ter as mãos cheias de nada aumenta. A certeza de que estar contigo foi, é e será sempre um voo em queda livre e eu cada vez menos tenho a percepção de onde está o cordão que abre as asas para me amparar. Não sei se me entendes, sempre fui de metáforas…poderia ser mais simples, chegar a ti e dizer-te: Amo-te mas o amor não chega. Falta a confiança em nós. Não em ti, mas em nós. Talvez chegasse mas isto não diz tudo. Não diz metade. Não diz nada.


Nunca me conseguirei conformar com o que temos. É engraçado como às vezes penso que sim, me sinto cheia, realizada, feliz… caio de quando em vez mas levanto-me assim que me abraças. Desta vez não é assim, não consigo que seja assim, não sei sequer se quero que seja assim ou se devo mesmo seguir em frente, esquecer, apagar-te de mim… Aliás, o que eu não sei é se estarei melhor sem ti do que estou contigo…por favor, ensina-me como é que se faz. Como se apaga o bem? Como se apaga o mal? Eu não sei, não sei, não sei! Sei que me dói. Dói-me tudo, dói-me tanto! E estou realmente muito cansada, exausta de me sentir assim… tanto que corro o risco de te dizer todas estas coisas, que não faço ideia de que forma as entenderás. Mas tudo isto está aqui atravessado de uma maneira que não posso (outra vez) engolir e fazer de conta para mim mesma que não é nada. Desta vez preciso até que tu o saibas. Tu que, por não pensares e sentires como eu, talvez para ti, realmente nada disto seja nada, nada faça sentido, nada seja importante. Como eu gostaria de ser assim também… Mas eu sou eu e não estou inteira… Valeremos alguma coisa, se eu estiver aos pedaços?

Loser / Winner

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Sim, é verdade
Sei que estou crua
Que as palavras despidas
Te doem
E os ecos dos silêncios
Te queimam
Pergunto-me porque nunca alcançaste
Que fujo de nós
Na ânsia que um dia me encontres
E me proves
Que errei ao perder-te.
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Pequenos nadas






São os pequenos nadas que me comovem, como quando te deitas ao meu lado e me deixas ouvir-te respirar.

Simples assim!










Adivinhação

Não me queiras adivinhar nas palavras
porque nem eu sei
de onde nasce o verbo
que germina discordante a cada dia.
Se vem de ti
ou dos fantasmas da minha demência
que se libertam e falam por mim

São somente promessas
sem passado nem futuro
e tantas vezes sem razão
vereda circular de desditas
onde nem um só gesto de ternura
fica por acontecer
e onde sou tudo o que desejo ser

Ouve, não queiras saber quem sou
Eu sou como o vento
Nem sempre a noite
o tempo
ou a morte

Por vezes sou apenas o relento
Barco sem timão
vento que vai e volta sem destino
sombra da lua entorpecida
Embriagada em delírios sem norte.

Não queiras saber quem sou
terias primeiro que saber onde me encontrar
e eu
nem sempre estou
onde me consegues procurar…

O que houve...


Pensando bem, não houve tempo. Não que as horas alguma vez fossem essenciais. Nem os dias, ou as noites. Na verdade, nunca houve tempo, bastaram instantes para te amar. Mas tu chegaste já o sol tinha adormecido de cansaço… e nem a lua, a tua, a nossa lua, resistiu à solidão. Vieste tão tarde meu amor. Porque demoraste tanto? Gostaria de ter-te esperado. Ter-te sido. Sermos vento e não lamento. Não, não houve tempo, fomos tudo menos tempo. Fomos Inverno, Inferno, Caos. Fomos atrito, delito e canção. Urze, alfazema e açafrão. Flor de Lua e Pedras de Pão.

 “_ Amanhã, quando acordares e fores à janela, olha para o Nordeste e lembra-te que lá, na terra onde os homens fazem da pedra o pão…”


Lembro, lembro-me sim, como poderia esquecer o tempo sem tempo? Sem medo? Onde o tudo eras tu e o sempre era eu? Não sei se te perdoo teres vindo depois do adeus. A canção não era a nossa, sempre foste mais que um rio, deverias ter bebido menos culpa e menos medo … Pensando bem talvez não tenha existido espaço. Um metro não era um metro e um vidro era um avião sem sorte. Talvez culpa minha que viajei sem destino. Ou tua, que embarcaste sem bagagem. Haverá culpa? Haverá perdão? Pensando bem, apenas houve amor. E um sonho. Um sonho de amor. Pensando bem, basta.

 
©2009 Amêndoa Amarga | by TNB